Paulo Robério Ferreira Silva. VISIBILIDADES DOS INVISIBILIZADOS: protagonismos dos subalternizados na Sociedade dos Currais entre 1689 e 1736 (tese de doutorado).
Concorrendo aos:
* Prêmio CAPES de Tese Edição 2024
* Prêmio UNIMONTES de Dissertações e Teses 2024.
RESUMO
SILVA, Paulo Robério Ferreira. Visibilidades dos invisibilizados: protagonismos dos subalternizados na Sociedade dos Currais entre 1689 e 1736. 000 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social (PPGDS) da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Montes Claros, MG, 2023.
A invisibilidade da expressiva maioria da população brasileira é parte de um projeto de poder que vem sendo praticado desde os primeiros anos da invasão/colonização lusitana, assentada na subalternidade, na colonialidade e na modernidade. O objetivo desta tese é contribuir para trazer à visibilidade os sujeitos, conhecimentos e práticas que foram invisibilizados desde a criação da Sociedade dos Currais, em sua primeira fase, entre 1689 e 1736. Essa foi a primeira sociedade colonizadora com população sedentária no território que viria a integrar a capitania de Minas Gerais. As visibilidades dos invisibilizados foram apreendidas como os protagonismos em subalternidades. Para tanto, a estrutura teórico-metodológica utilizada foi a da genealogia decolonial. As análises foram feitas considerando as emergências de fenômenos que possibilitassem a apreensão desses protagonismos. Definiu-se como escopo, as redes formadas por elementos materiais e simbólicos que constituíssem os fenômenos socio-históricos analisáveis como totalidades heterogêneas. O protagonismo, na perspectiva dos subalternizados, foi definido como o agir criativamente, conforme as suas necessidades e expectativas, tensionados nas relações poder/resistência e/ou em situações de exterioridade à hegemonia invasora/colonizadora. Já a subalternidade, no bojo das invenções do padrão colonial/moderno de poder, como a depreciação e inferiorização de todos os povos e suas culturas que foram subjugados e submetidos pelo mundo ocidental. Por esse prisma, a colonialidade é o arcabouço de conhecimento que classifica e hierarquiza praticamente todas as dimensões existenciais a partir da primazia do mundo ocidentalocêntrico; e a modernidade, o padrão de poder que proclama a ele mesmo como o estágio superior das sociedades humanas, com instituições que devem ser referenciadas pelas demais culturas e com a autoridade para intervir nos povos que foram subalternizados. Nos Sertões do Rio São Francisco, a subalternidade e a colonialidade/modernidade foram criadas no bojo de uma poderosa rede de gentes brancas. Para além dela, os mundos sociais que foram subalternizados ou que existiram exteriormente aos seus domínios, não apenas foram fundamentais para a existência daquela sociedade, como também (re)inventaram-se para se adaptarem, corrompê-la e se desvencilhar dela. Internamente, emprestaram seus conhecimentos milenares, foram mão de obra e também lideraram movimentos, como nas Insurreições dos Currais. Externamente, tornaram o Sertão dos Povos Originários praticamente impenetrável para o invasor, reflexo da expertise daqueles povos. Ao se fazer o giro decolonial, em fins da de(s)colonização epistêmica dos que foram invisibilizados, evidenciou-se que o protagonismo em subalternidade é o protagonismo decolonial que constrói as bases e as condições para o protagonismo pluriversal, em que todos os povos são lóci autônomos, ao mesmo tempo que interdependentes, de conhecimentos e práticas fundamentais para a reprodução das sociedades humanas.