quinta-feira, 27 de outubro de 2016

ÉTICA PARA A DIVERSIDADE É TEMA DE PALESTRA DO PROF. MESTRE PAULO ROBÉRIO

O Prof. Mestre Paulo Robério F. Silva realizou nesta quarta-feira (26. Out. 2016) uma palestra para o curso de Serviço Público do Instituto Federal do Norte de Minas. No evento que ocorreu na Câmara de Vereadores de Manga, o Professor versou sobre a necessidade urgente de se construir uma ética no serviço público voltada para a diversidade, considerando que esta condição é inerente a formação da sociedade brasileira.

A necessidade para a construção de uma ética para a diversidade se justificaria pelo fato de o Brasil precisar construir uma utopia que tenha a diversidade que constitui a sociedade brasileira, resultado do amálgama de diversos e diferentes grupos ético-culturais nativos, de origem africana, européia e também asiática, como seu mito fundador.

Neste sentido, a relação entre Estado e sociedade, que se materializa nos serviços público resultado das políticas púbicas, precisaria observar tanto a condição desta diversidade – uma das mais pujantes do mundo – como a (re)invenção da democracia, considerando a sua essencialidade em uma sociedade cidadã, quando é necessário a efetiva participação da sociedade nas tomadas de decisões.

Do mesmo modo, uma nova ética no serviço público, tendo a diversidade como elemento norteador, também não prescindiria da iminência de superação do patrimonialismo, ou seja, da apropriação do que é público pelo privado, considerando que esta tem sido uma das principais características da sociedade brasileira, que tem no escravismo, mesmo em pleno século XXI, a sua principal estrutura organizacional.

Em síntese, a relação Estado/sociedade, mediada pelo serviço público, precisaria ser urgentemente reinventada no sentido de atender a esta característica fundadora da sociedade brasileira: a diversidade. A manutenção da ordem que até aqui vigorou, que já teria se justificado insuficiente, como mostra a existência de uma das sociedades mais desiguais e violentas do mundo. Exemplo disso é a “caça” feita diuturnamente aos mais pobres, culpados exclusivos pela sua pobreza.


quinta-feira, 13 de outubro de 2016

UMA ESCOLA FEITA PARA QUE OS ALUNOS PENSEM

A Escola é, definitivamente, um ser vivo, portanto, sócio-histórico. Como ser produz outros seres*. Seres estes que vivem em permanente estado de interação e transformação. A Escola de hoje não é mais como a de antes. Tudo muda, é certo. A Escola de hoje anda um tanto quanto perdida; parece não ter rumo, talvez até mesmo sentido. Assim como antes precisamos pensar hoje a Escola que realmente desejamos: e pensar já é um bom começo para uma Escola feita para que os alunos pensem.

*É possível mais bem compreender o conceito de "ser" como tudo aquilo que possui uma natureza que se basta em si mesma.

Como sugestão, neste primeiro texto, poderíamos refletir um pouco sobre a necessidade de formarmos mais e mais pensadores:

O AUTORITARISMO NA EDUCAÇÃO: POR QUE NÃO FORMAMOS MAIS PENSADORES?

“A educação é um ato político, mas antes disso é um ato de amor”, disse Paulo Freire. E bem o disse! Colocação apropriada pra essa nossa escola que, há muito tempo e ainda hoje, continua sendo um lugar de más políticas e vazio de amor.

No desbaratino das informações, no desobjetivo da instituição escolar, perdeu-se a linha de raciocínio: para que serve a escola? O que formamos nas escolas? O que queremos dela? E dos alunos?

Encontramos nas (lotadas) salas de aulas, públicas e privadas, um contingente de alunos e alunas desinteressados, desnorteados e desmotivados. Não sabem por que estão ali (ou sabem: é porque os pais obrigam!) e não querem estar ali. Em contraposição à rua, ao lazer ou a qualquer outro projeto pedagógico/cultural (a aula de dança, de canto, o esporte, etc), a escola é algo negativo na vida do aluno. É uma referência ruim – com exceção dos amigos! São eles a melhor parte da escola! Ou seja, o melhor momento dentro da instituição é o recreio: é estar fora da sala de aula. Não há prazer em estudar.

Não é pra menos. Maria Montessori, em seu livro Pedagogia Científica, fala do esforço dos cientistas (antropólogos, médicos, higienistas) em preparar a escola para a criança: pensaram nos bancos, por exemplo: fixos, para que não se movessem, com a altura certa para que as crianças não desenvolvessem escoliose (!), com abas laterais, para que o aluno não pudesse sair de um lado ou outro. O banco é a melhor representação da escola: pensado para manter o aluno imóvel e para prevenir até problemas de saúde que possam ser causados pela própria imposição rígida. Completamente artificial e estranho ao aluno e sua condição natural enquanto ser humano.

No espaço escolar, imobilidade e silêncio são boas características. Obrigatórias e essenciais para a transmissão do conhecimento. O professor, detentor de todo o saber, é quem vai transmitir tudo que o aluno precisa saber – desconsidera, ele, pois, que o aluno não é uma página em branco e tem experiências trazidas de sua vivência? A escola não é um espaço de debate: a conversa é punível! “Silêncio!”, pedem os professores. O movimento é punível! “Vai sentar no seu lugar”, ordenam os professores. O autoritarismo está em tudo, inclusive e principalmente na falta de liberdade de movimento e de expressão. Tudo que se preza é a hierarquia autoritária do professor e do próprio espaço e o bom comportamento (que se traduz em silêncio e imobilidade) por parte do aluno.

Há alguns dias, durante uma aula na UFMT, a professora (estarrecida por não ser a primeira vez que falava disso) chamou a atenção da turma: “vocês estão explicando e traduzindo o trecho que retiraram do texto, mas eu pedi que refletissem sobre, não que explicassem o que já está lá no próprio texto”. Um colega se desculpou: “desculpe, professora, mas eu vim, e creio que a maioria dos meus colegas aqui também vieram, de um ensino médio em que não devia pensar, devia copiar e resumir os textos dados pelo professor; não fomos ensinados ou estimulados a pensar, aí chego aqui e não sei fazer isso que você pede”. A cultura da memorização e não da produção. É essa a falta de diálogo entre o ensino básico e o ensino superior que tratei em conjunto com meu amigo Sheltom de Aragão no texto “Enem e ensino básico: a educação em crise”.

É essa, talvez, também a escola que Sir Ken Robinson diz que mata a criatividade. Essa escola deseja a criatividade? Ou deseja a repetição de padrões pré-estabelecidos impostos? Montessori, após anos de estudos e observação da criança, diz que o movimento é condição essencial para a vivência desse pequeno ser em construção. Diz mais: que o caminho do intelecto passa pelas mãos. A construção do saber se dá nos cinco sentidos e não apenas no campo das ideias, a decoreba de textos e o armazenamento que é tido como conhecimento intelectual. Pode a escola limitar o saber à teoria e exigir dos alunos que se mantenham interessados, producentes e apaixonados pelos estudos quando limitam que se movimentem, questionem, reflitam e que estejam em contato direto com seu objeto de estudo?

Sentados e quietos, desde a mais tenra idade, riscamos por cima dos traços, pintamos dentro das bordas, preenchemos os padrões, cortamos em cima da linha… Fazemos tudo conforme o que foi pré-estabelecido, conforme o padrão. Não criamos: seguimos ordens. Como diz Paulo Freire, a escola é livresca e verborrágica.

Se voltarmos uns milênios atrás, na desenvolvida cidade de Atenas, as escolas gregas (scholé) eram espaços abertos em que se estimulavam os debates, defesa de teses, contraposição de discursos, enfim, a retórica e a oratória eram cruciais. As escolas formavam pensadores, formavam filósofos – aqueles que amam o conhecimento, na tradução literária do termo. Para aquele tempo, a retórica era importantíssima tanto para os que quisessem seguir carreira política quanto para os que precisavam, simplesmente, fazer valer seus interesses nas assembleias ou se defender das acusações jurídicas. Falar bem, pensar, argumentar e debater eram pontos muito valorizados na sociedade grega. E a escola de hoje o que precisa formar? O que lhe é programado formar?

O que se perdeu no desenvolver da escola? Talvez com a revolução industrial, a necessidade de mão de obra especializada alimentando os mercados da burguesia, a necessidade de técnicos, tudo isso tenha transmutado a escola de um espaço de pensadores para uma fábrica de trabalhadores? Sobre isso, tratei no artigo “A escola pública é ruim de propósito?”, postado aqui no blog.

A escola é uma gaiola que corta as asas dos alunos e os domestica. E não se engane quem pensa que isto é condição única e exclusiva da escola pública, pois se trata de um modelo adotado e imposto que é seguido também pelas escolas privadas, embora comumente se crie a dicotomia escola pública ruim vs escola privada boa – dicotomia esta que, aliás, serve confortavelmente ao mercado privado. Transformar a educação em mercadoria é uma das coisas mais funestas que concebemos na sociedade, no mesmo patamar, provavelmente, só está a privatização da saúde e, consequentemente, a mercantilização da vida.

Paulo Freire e Maria Montessori têm trajetos pedagógicos bem distintos, mas suas pedagogias andam lado a lado quando se trata de autonomia: eles sabem que foi negada, até aqui, a autonomia ao aluno. A autonomia para estudar, pensar, dialogar, construir, pesquisar, descobrir, ser. E os dois pedagogos trazem propostas que devolvem essa autonomia aos aprendizes, criando métodos e ferramentas que auxiliam no processo de aprendizagem. Para Montessori, o professor é um observador da criança e só deve interferir quando necessário ou quando requisitado. Ele não é a figura central da cena, este é o aluno! Para Paulo Freire e sua Pedagogia da Autonomia, educar não se trata de um ato de transmissão de conhecimentos, mas sim criação de oportunidades para a construção dos saberes. Dois revolucionários exaltados na teoria e ignorados na prática.

Essa escola autoritária que não permite ao aluno se desenvolver e construir sadiamente seus saberes é a mesma escola carente de democracia. Para muitos pode parecer estranho o conceito de democracia na escola, porque não estamos acostumados a ver. Todavia, isso está intrinsecamente ligado à amortização da criatividade. É essa mesma escola autoritária que não permite a criação de grêmios, é a escola que proíbe qualquer ato político por parte dos alunos – como um simples abaixo-assinado –, é a escola que não elege Conselho, que dá suspensões e expulsões compulsoriamente sem justificativa apresentada aos pais, que não sabe lidar com indisciplinas na sala de aula, que esconde o seu regimento, que não elabora as regras junto dos alunos e uma infinidade de outras práticas muito comuns nas escolas brasileiras que dariam uma lista extensa demais para se colocar aqui. No blog EducaForum, são incontáveis os relatos de alunos, responsáveis de alunos e professores que denunciam o autoritarismo dentro do ambiente escolar e que provam, paulatinamente, que a escola não sabe lidar com alunos críticos, inteligentes, questionadores.

Retirando um trecho do artigo “Escola olhando para a pobreza”, do blog citado:

Pedir às classes formadoras de opinião, cujos filhos estudam na rede particular, que se preocupem com a inclusão e a educação dos filhos “dos outros”, é demais… E essa omissão provocou outro fenômeno muito interessante: de “terra de ninguém”, a escola pública virou propriedade da pior classe “docente”, que através da assessoria de imprensa de seus sindicatos convenceu a sociedade de que o fracasso da escola é culpa do aluno e de sua família. Isso mesmo! Aluno pobre, família sem cultura e desestruturada = fracasso escolar. De modo geral, a escola espera que o aluno fracasse e é disso que falamos sempre aqui. Os verdadeiros educadores são a minoria e se calam, esmagados pela arrogância e truculência dos demais.

Também já foi falado, em artigos anteriores aqui do blog, sobre a politicagem exercida sobre a educação enquanto números. Ou seja, a educação usada para propaganda política. Despreza-se a qualidade, o importante é a quantidade para ser usada como fator positivo que se apresenta pra população na “prestação de contas”. Assim, a Escola vai deixando seu viés idealista e pedagógico de lado (pecado!) e se institucionalizando de tal forma que sua única função é a escolarização, a certificação, não a formação em si, a qualidade, o cidadão que formou, o pensador que devolveu à sociedade. Sobre isso, um trecho muito lúcido de outro blog, o Desmascarando a Escola Pública:

Sim, a cada inscrição em concurso, em vestibular, lá está a cópia do histórico de segundo grau. Hoje, é exatamente isso que as autoridades querem. Escolarização. O certificado que se guarda na gaveta. As pedagogas olham a nota e, por ela, formam sua opinião sobre o sucesso do aluno e do professor. As notas vermelhas passam de quatro? Se forem, o professor está errado. O diretor atenta para um número: reprovados. Não saberia sequer dizer qual o resultado das turmas nos exames oficiais, que competências a escola está desenvolvendo, onde estão as falhas, nem elaborar um projeto. Mas o certificado é como o rótulo posto no produto no final da esteira de produção. Só que produto pode ser rejeitado lá fora, e a indústria ser fechada; a escola, ao contrário, acredita que cumpriu sua função ao escolarizar; se não houve aprendizagem, não é algo que a preocupe. Aluno só existe na escola; a vida como membro da sociedade não interessa a ela. Isso tudo não muda. Existia nos anos 80. E hoje aquele tempo é visto como modelar pelas pessoas que atuam na educação. As provas são as mesmas, com as mesmas exigências. Não há construção de conhecimentos ou avaliações autênticas. Todos os parâmetros e propostas curriculares passaram incólumes pela escola. Só o aluno mudou: ele diz que não vai fazer nada do que for pedido. E a escola precisa, a todo custo, escolarizá-lo, mesmo sem uma atividade que corresponda a uma avaliação real. Problemas maiores começam aí: a corrupção hoje está longe de estar na cola. Está profissionalizada. Quesito em que a educação nacional humilharia o resto do mundo nos testes internacionais.

É difícil apontar uma solução para o problema da escola e educação pública, entretanto. Isto porque parece não haver a devida preocupação com o estado atual, como se estivesse num estágio satisfatório: serve bem para formação de mão-de-obra e serve bem ao cenário político. Existem escolas democráticas, existem pedagogias diferentes, existem escolas que se preocupam com uma formação diferente do ensino proposto (verborrágico, livresco, memorizador): mas elas não estão “disponíveis” ao público, não são moldes incentivados, adotados, promovidos, acolhidos pelo Estado. São da iniciativa privada. Só tem uma educação diferenciada quem puder pagar por isso, quem puder arcar com o preço. A escola mais idealista que utiliza uma linha pedagógica que foge à tradicional é também uma bolha social, é elitista. São exemplos, no Brasil e no mundo, as escolas Montessori, as escolas Waldorf, a escola Summerhill, a Escola da Ponte (uma exceção, pois integra o sistema público de ensino há algum tempo recente), entre outras tão ilustres quanto.

Portanto, um novo panorama é possível e as críticas, ferramentas e contribuições pedagógicas estão aí, extremamente acessíveis. Bastam interesse e investimento do Poder Público e uma população consciente da importância dessa renovação no modelo escolar. Sigamos o exemplo da Holanda, que utiliza o método Montessori nas escolas públicas. Ou, melhor, da Finlândia, que – embora independente há apenas 90 anos – ocupa sucessivamente o primeiro lugar do PISA (o Brasil está em 52º de 56 países). O país conta com 98% dos jovens na rede pública de ensino, baseia sua educação na autonomia e liberdade, alimentação e material escolar são gratuitos, 100% subsidiados pelo governo, valorização e qualificação do professor – e isso reflete na qualidade de ensino, pois as escolas têm autonomia em compor o currículo e os professores têm liberdade metodológica para colocá-lo em prática (o ministério de educação finlandês não inspeciona desde 1990).

Texto publicado no Jornal GGN.


ESCOLA PÚBLICA NÃO É EMPRESA

(Paulo Robério Ferreira Silva*) Sob a batuta do neoliberalismo, a crise na Escola pública não tem hora para acabar no Brasil.

Nas Escolas públicas de ensino básico, Professores, gestores, equipe administrativa e de apoio, comunidade e educandos se deparam diuturnamente com inúmeros desafios que levam a um cenário marcado por mais incertezas do que certezas. Sob a batuta de crise anunciada da Escola que parece não ter meio, nem fim, já que o começo teria sido vinculado à fase de redemocratização do país, a Escola pública é exposta e submetida aos interesses neoliberalistas vinculados à ideia de que educação é mercadoria .

Em pauta, como consequência, inúmeros problemas. Dois, em particular, mereceriam atenção dos profissionais da educação e da sociedade em si. 1o) a Escola pública não é empresa, como vem sendo disseminado pelo discurso neoliberal; 2o) a Escola pública, um bem social, portanto de todos, deve ser gerida e realizada em suas funções sociais por profissionais da educação, devidamente formados e preparados para tal fim, conforme os conhecimentos desenvolvidos ao longo do tempo e disseminados no Brasil por centenas de instituições de ensino criadas para tal fim.

A ideia recorrente, impingida no discurso neoliberal, disseminada pela grande mídia, por instituições privadas que dariam "suporte" as Escolas e mesmo por supostos "especialistas" em educação a serviço, na verdade, do capital manipulador - muitos com formação completamente distinta da área -, de que a Escola seria uma empresa oblitera, sobremaneira, a função social da Escola. Afinal, como previsto na legislação - tome-se como referência a Constituição Federal de 1988 e a LDBEN (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) - a Escola no Brasil tem como função social oferecer ao educando (lê-se sociedade) conhecimentos que contribuam para a sua condição de cidadão em uma sociedade democrática, no sentido de que se realize plenamente como pessoa e coletividade.

Como instituições social, a Escola não pode ser tratada como empresa. Embora não se negue que princípios da gestão de empresas possam ser utilizados, mediante adaptação, aos setores administrativos e financeiros da Escola, sem que estes percam a sua orientação pelos interesses sociais. Na dimensão pedagógica, definitivamente a Escola não lida com as pessoas como se fossem dados. São seres humanos em permanente estado de transformação; de relação e (re)significação com o mundo vivido.

Ao se tentar transformar, a qualquer custo, a Escola pública em uma empresa, tem-se transferindo para os profissionais, sobretudo os Professores - que ano após ano vivem o vilipendiamento de sua identidade - a responsabilidade por um suposto fracasso. Esta responsabilização mesquinha e mentirosa esconde as reais condições das Escolas públicas, sucateadas, com raríssimas, se é que se pode dizer, exceções, deliberadamente pela não aplicação adequada dos recursos púbicos. Como se sabe, em linhas gerais, 1 em cada 4 Reais produzidos em tributos no Brasil seriam destinados a educação.

Para ampliar ainda mais este drama produzido e muito bem orquestrado nas últimas décadas, o avanço da ideologia neoliberal tem transformado a Escola pública em um lugar de disseminação de ideias que se contrapõem o arcabouço teórico produzido pelas instituições de pesquisa no Brasil e no mundo voltadas para a área de educação. Tal interferência, exemplificada nas chamadas "organizações sociais" e em empresas privadas que vendem, muito bem por sinal, programas específicos para a área pedagógica, tem contribuído para fragilizar ainda mais o trabalho de Professores e demais profissionais da Escola. Resultado disso é que, acanhados e com pouco ou nenhuma reverberação de seus discursos, estes profissionais, sobretudo o Professor, tem se tornado mero reprodutor deste modelo neoliberal de Escola e perdido, rápida e violentamente, a sua capacidade crítica de lidar com a realidade; condição determinante para que a Escola cumpra, efetivamente, a sua função social.

Mestre em Sociologia, Antropologia e Ciências Política pela PUC Minas; Historiador; Especialistas em História e Cultura Afro-brasileira, Gestão Escolar e Qualidade da Educação Básica; Autor do livro: Manga - encontro com a modernidade. Atualmente desenvolve o projeto Educação para a Diversidade.

FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA É TEMA DE PALESTRA DO PROF. MESTRE PAULO ROBÉRIO FERREIRA SILVA

A Escola, particularmente a pública, cumpriria uma função social? Qual seria e como a mesma se realiza? Como este questionamento o Prof. Mestre Paulo Robério Ferreira Silva ministrou palestra neste sábado (30 de abril de 2016) na E.E. Ministro Petrônio Portela. O evento contou com a participação do corpo docente e da equipe gestora da referida Escola.

Para responder a tais questões – tema que tem merecido uma atenção cada vez maior não apenas dos pesquisadores, mas também dos profissionais da educação, dado a emergência da Escola neoliberal – foram enfatizados três campos de reflexão: o primeiro quando aos aspectos da Escola neoliberal e a comparação reflexiva da Escola atual, ambientada numa sociedade democrática/cidadã e a Escola não-democrática do período do autoritarismo militar.

O segundo eixo reflexivo se referiu as teorias educacionais predominantes no século XX e início do século XXI. Discutiu-se sobre a teoria não-crítica; teoria crítico-reprodutivista, vinculada a ordem do capital e a teoria histórico-crítica, emergente na últimas décadas e que pretende superar os limites dos determinismos da Escola neoliberal que passam a se expandir no Brasil a partir da década de 1990.

Por fim, discutiu-se aspectos do conhecimento sócio-histórico (dialético) que seria o substrato na realização da função social da Escola na atualidade. Em linhas gerais, a ideia central é que a Escola cumpre esta função social quando socializa saberes escolares que são oriundos da ciência e no diálogo com as experiências individuais dos educandos resultam em possibilidades de transformação da realidade conforme as reais necessidades e expectativas destes sujeitos sócio-cultural-históricos, considerando a realidade vivida, ou seja, as circunstâncias e contingências.

Tal perspectiva, além de atender aos princípios legais, como se vê no Art. 205 da Constituição Federal, que diz ser “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”, encontraria suporte teórico no pensamento do sociólogo húngaro Gyorgy Lukácks: “a problemática da educação reenvia à questão sobre a qual ela se funda: a sua essência consiste em influenciar os homens a fim de que, frente às novas alternativas da vida, reajam no modo socialmente desejado. Ora, este propósito se realiza sempre – em parte – e isto contribui para manter a continuidade na transformação da reprodução do ser social”.

Várias e importantes indagações dos profissionais ali presentes foram feitas no momento de debate o que revelou a importância da discussão para o aperfeiçoamento profissional e para que a própria Escola possa ampliar a qualidade do atendimento dado a sua clientela.

CURRÍCULO COMO POSSIBILIDADE DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL É TEMA DE PALESTRA DO PROF. MESTRE PAULO ROBÉRIO

Aproveitando as discussões sobre currículo propostas pelo Ministério da Educação, que visa criar uma Base Nacional Curricular Comum (BNCC), o Prof. Mestre Paulo Robério F. Silva realizou nesta sexta-feira (12) palestra na E.E. Ministro Petrônio Portela em Manga, MG sobre o tema. Em linhas gerais discutiu-se aspectos normativos do currículo, quando se prevê certa autonomia para a instituições de ensino, a possibilidade e a legitimidade da formação humana, e o Currículo como um instrumento político (de poder) de transformação social.

Como primeira abordagem, foram discutidas certas questões normativas do Currículo, com ênfase na proposta de criação de uma Base Nacional Curricular Comum apresentada recentemente pelo Governo Federal em parceria com diversas instituições do campo da educação no país. Como previsto na Constituição Federal em vigor e em inúmeras outras legislações, o Currículo Escolar é um instrumento fundamental para que a Escola possa oferecer programas de ensino/aprendizagem que façam valer os ideais previstos de uma formação humana plena, voltada para a vida cidadã e para a qualificação para o trabalho.

A segunda visou provocar reflexões quanto à dimensão histórico-ontológica do Currículo. Apoiando-se em estudos de Dermeval Saviani, um dos mais renomados pesquisadores em educação do país, Professor emérito da Unicamp, discutiu-se sobre educação como formação humana, visando identificar tanto as suas possibilidades, como a sua legitimidade. Em linhas gerais, a liberdade de fazer escolhas, de tomar decisões e de interferir na realidade, seriam condições primárias que indicam a possibilidade da educação. De outro modo, a legitimidade se daria pela capacidade de universalização do homem por meio “comunicação entre pessoas livres em graus diferentes de maturação humana”, condição que revelaria a educação como promoção do homem.

Por fim, a partir da obra de Paulo Freire, fundador mundial da Pedagogia Crítica, buscou-se atualizar o discurso sobre o currículo por tal perspectiva. O Currículo foi pensando não como uma grade de disciplinas e conteúdos, mas um artefato construído sócio-historicamente visando à transformação social. Por se tratar de instrumento de poder, o Currículo selecionaria e privilegiaria determinados temas visando certa formação humana desejável para um determinado tipo de sociedade.

Neste sentido, longe de ser uma empresa, voltada para gerar excedentes – discurso que ganha força na Escola neoliberal – a Escola não é apenas um local de transmissão de uma cultura incontestada, unitária, mas terreno de luta, de encontro, de possibilidades. “A Escola é o lugar onde se ensina não só conteúdos programáticos, mas se ensina a pensar certo, a tolerância, o profundo respeito pelo outro”, como nos ensina Paulo Freire.

Prof. Mestre Paulo Robério F. Silva
Historiador; com Mestrado na PUC Minas; autor do livro: Manga - encontro com a modernidade. Atualmente desenvolve o projeto: Escola do Conhecimento.

PROF. MESTRE PAULO ROBÉRIO FAZ PALESTRA NO IFNMG EM JANUÁRIA

O Prof. Mestre Paulo Robério Ferreira Silva realizou na última quinta-feira (24) uma palestra no Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG), em Januária, na 1ª Mostra de Educação: debates para um novo ensinar. Com o tema “A Escola do Conhecimento e a (re)invenção de sentidos” discutiu-se a necessidade de se superar o modelo economicista de escola, sustentado pelo paradigma neoliberal, em favor de uma escola democrática que, fundada em uma educação integral, promoveria efetivamente as transformações sociais clamadas pela sociedade.

A discussão realizada para centenas de atentos graduandos orientou-se pela proposta de se refletir sobre o avanço da escola economicista, que nas últimas décadas tem se tornado hegemônico nos sistemas de ensino público no país, a exemplo do que ocorre com a rede estadual em Minas Gerais. Atrelada aos interesses de mercado e aproveitando-se da deserção do Estado em relação aos contextos econômicos, políticos e sociais, entre outros, resultado da ideologia do Estado mínimo, este modelo de escola tem contribuído para acentuar a distância que separa a elite privilegiada da grande maioria da população, ao oferecer um ensino voltado, fundamentalmente, à formação de mão de obra para o mercado, em detrimento de uma formação integral.

A possibilidade de construção de uma escola democrática, conforme apresentado pelo Prof. Mestre Paulo Robério, dependeria da consubstanciação de um novo pacto social. Seria preciso, seguramente, responder de outra forma a pergunta: “qual sociedade nós desejamos?” Afinal, o modelo excludente desenvolvido nestes quinhentos anos de história resultou em uma sociedade extremamente violenta, em que a grande maioria da população não participa efetivamente das benesses produzidas pela própria sociedade.

Uma formação integral que poderia ser oferecida pela escola democrática – aquela que privilegia a autonomia dos sujeitos, na relação entre suas experiências e o mundo formal/moral resultado dos saberes construídos ao longo da história pela humanidade – seria palco para as transformações sociais desejadas e para a emergência da cidadania e da democracia como possibilidades de organização da própria sociedade. Dito de outro modo, a escola integral/democrática seria o palco para a manifestação dos sujeitos sócio-histórico-culturais, aqueles capazes de decidir, agir e significar as suas próprias existências a partir dos interesses das coletividades em que estão inseridos, valendo-se do princípio do Bem Comum.