sexta-feira, 24 de novembro de 2017

RELAÇÕES RACIAIS É TEMA DE PALESTRA DO PROF. MESTRE PAULO ROBÉRIO F. SILVA

Embora a sociedade brasileira resulte do caldeamento de diversos e diferentes grupos étnicos, tanto de origem autóctone, como europeia e africana, resultando com isso numa mistura impar na história da humanidade, o tema relações raciais ainda é de difícil trânsito nas instituições que dão forma a este país, até mesmo nas Escolas. Nesta quinta-feira, 23 de novembro de 2017, a E.E. Presidente Olegário Maciel promoveu, como evento da Semana de Educação para a Vida, uma importante palestra com o Prof. Mestre Paulo Robério F. Silva. Em pauta, as Relações Raciais e as artimanhas da Raça e do Racismo.

Mediado pela supervisora Hélia Silva, a abertura do evento foi feito pela diretora da instituição, Senhorinha Andrade, que versou sobre a importância das relações sociais a partir de previsibilidade na legislação educacional vigente, considerando a sua significância em face da realidade social brasileira e manguense, em particular, marcada pela diversidade étnica.

O evento, que teve a presença de educandos do turno vespertino, tanto do ensino fundamental como médio, contou também com a presença dos alunos pesquisadores do projeto de Iniciação Científica: Africanidades desenvolvido pela E.E. Ministro Petrônio Portela. Foi uma oportunidade para se apresentar o referido projeto de iniciação científica promovido pela primeira vez em Minas Gerais com educandos do ensino médio e que tem como objetivo investigar as identidades de duas comunidades quilombolas e relacioná-las as dinâmicas desenvolvidas pela Escola, bem como foi apresentado também o projeto "Indicadores da Qualidade da Educação: Relações raciais", a ser desenvolvido em 2018. Nos mais, foi também um significativo momento de intercâmbio entre as duas maiores Escolas estaduais do município.

Em sua fala, o Prof. Mestre Paulo Robério F. Silva apresentou o panorama histórico de construção das ideias de raça e racismo ao longo dos últimos cinco séculos. Mesmo que ainda de forma não-científica as ideias relacionadas à raça e ao racismo no Brasil são implantadas com a instituição dos processos colonialistas desenvolvidos a partir da primeira metade do século XVI. A hierarquia entre o colonizador (dominador) de origem europeia e as populações nativas e em seguida as de origem africana e mestiça (dominados), como já vai se caracterizando no primeiro século de ocupação colonial, resulta na instituição de um imaginário que separa os brancos europeus, numa pseudo-condição de superiores hierarquicamente e o restante da população, subalternizada e inferiorizada em todos os seus aspectos.

No século XVIII, a ciência, principalmente depois da classificação das espécies animais feita pelo naturalista Carl Linné em 1735, com a publicação do livro Systema Naturae, ratifica a hierarquização das raças e estabelece a verdade científica como justificativa para separar os seres humanos em civilizados ou não, em suas diferentes gradações. Já no século XIX, tanto o ideal de branqueamento da sociedade brasileira, doutrina instituída pela elite nacional a partir da independência do Brasil em 1822, como o desenvolvimento de teorias científicas, a exemplo da antropometria e da osteometria, ramos do conhecimento utilizados para medir as proporções do corpo e dos ossos, visando identificar, sobretudo, a propensão ao crime, contribuíram para acentuar ainda mais a distinção entre brancos e não-brancos, fortalecendo com isso o estado violento de desigualdade social.

Mesmo com a tentativa de Gilberto Freyre, antropólogo pernambucano, de “amenizar” os efeitos desta hierarquia social com a sua defesa de que no Brasil se processou e processa uma “democracia racial”, tese apresentada no livro Casa Grande & Senzala, publicado em 1933, as distâncias entre brancos e não-brancos não arrefeceram. Ao contrário, têm se tornado cada vez mais expressivas e violentas.

Como resultado, o país chega ao século XXI divido entre aqueles que percebem, em linhas gerais, que os problemas de raça e racismo não se referem necessariamente à “cor da pele”, mas a desigualdade social. Muitos se apóiam, inclusive, em uma ideia esdrúxula de que no Brasil não há racismo, como defendem Ali Kamel, diretor de jornalismo da Rede Globo, no livro Não Somos Racistas e o geógrafo da USP, Demétrio Magnoli no livro Uma Gota de Sangue. Por outro lado, há aqueles que entendem que as questões de raça e de racismo têm construção histórica e que tem resultado na produção de uma sociedade extremamente desigual, em que milhões de brasileiros são violentados em seus direitos para beneficiar uma pequena parcela da sociedade que se arvora elite.

O tema, como se pode perceber nesta breve reflexão considerando os elementos históricos, é carregado de nuances caracterizando, com isso, a sua complexidade que, seguramente, vai para além dos aspectos científicos, perpassando elementos morais e de relação de poder, entre tantos outros. Nisto se assenta a manifestação do racismo como elemento constituidor da sociedade brasileira, construída, inclusive em nossos dias, em bases escravistas.

Desse modo, seria profícuo perceber alguns aspectos da natureza do racismo:

a) Seu lugar privilegiado é o imaginário.
b) Se justifica na exata proporção de produção de privilégios para o racista e de exclusão para as vítimas.
c) Se materializa na apropriação dos recursos escassos, condição que acentua a desigualdade social.
d) Se perpetua num moralismo (ou pseudo-moralismo) arcaico, conservador e que não aceita as transformações sociais em busca de uma sociedade para todos, indistintamente.

No mais, uma longa jornada ainda nos separa do ideal africano do ubuntu: só sou porque somos nós. E esta longa jornada, feita de sonhos, suor, sangue e muita garra começaria em cada movimento que nos conduza, mesmo que ainda timidamente, ao sonho de liberdade para todos, indistintamente.


* Mestre em Ciências Sociais pela PUC Minas; Historiador; Especialista em História e Cultura Afrobrasileira pela PUC Minas; Gestão Escolar; e Qualidade da Educação Básica pelo EDUCOAS (OEA). Autor dos livros: Manga – encontro com a modernidade e Educação para a diversidade (no prelo). Professor das Escolas Estaduais: Ministro Petrônio Portela e Presidente Olegário Maciel.

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sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Manga presente na formação no Programa de Iniciação Científica no Ensino Médio

A E.E. Ministro Petrônio Portela, localizada no bairro Tamuá em Manga foi uma das 2 contempladas na SRE/Januária, formada por 19 municípios, com o projeto de Iniciação Científica voltado pra educandos do Ensino Médio. No Estado foram escolhidos 94 projetos para a linha de pesquisa sobre o tema afro do Núcleo de Pesquisas e Estudos Africanos, Afro-brasileiros e da Diáspora (UBUNTU/Nupeaas). O projeto de autoria do Prof. Mestre Paulo Robério F. Silva, AFRICANIDADES: reinvenção da África nas comunidades de Espinho e Malhadinha em Manga, MG na perspectiva do contato com a Escola, visa fazer um estudo de identidades das comunidades quilombolas em relação a Escola. Nos dias 8, 9 e 10 houve no Othon Palace Hotel em Belo Horizonte uma importante capacitação destinada a orientadores de pesquisa e técnicos das Superintendências Regionais de Ensino.   



Educadores participam de formação do Programa Iniciação Cientifica no Ensino Médio

São mais de 120 professores que desenvolveram projetos de iniciação cientifica em suas escolas nos eixos Ubuntu/Nupeaas e TICS

Professores da rede estadual de Minas Gerais que tiveram projetos selecionados para participar do Programa Iniciação Cientifica no Ensino Médio, iniciativa da Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Educação (SEE), estão reunidos em Belo Horizonte para participar de uma formação. Durante três dias, será discutida a metodologia que deverá ser aplicada nas escolas na execução das iniciativas. São educadores de 94 escolas que tiveram seus projetos selecionados para integrar o eixo Núcleos de Pesquisas e Estudos Africanos, Afro-Brasileiros e da Diáspora (Ubuntu/Nupeaas) e 33 professores de escolas que tiveram projetos selecionados para participar do eixo Territórios de Iniciação Cientifica (TICS).

“Esses dois grandes eixos de iniciação cientifica dentro do Ensino Médio representam um investimento importante para o jovem e educadores de nossas escolas. É hora de estarmos juntos em busca de uma educação de qualidade e que dê visibilidade ao protagonismo dos estudantes e dos professores”, destacou a subsecretária de Desenvolvimento da Educação Básica, Augusta Mendonça, durante a abertura do Encontro.

O Projeto Iniciação Científica no Ensino Médio tem por finalidade viabilizar e apoiar a atividade de pesquisa e investigação científica em escolas da Rede Estadual de Ensino Médio de Minas Gerais, para estudantes, e conceder extensão de carga-horária a professores do Ensino Médio, para que desenvolvam os projetos de pesquisa selecionados. A ideia é incentivar, apoiar, valorizar e dar visibilidade à produção e compartilhamento de conhecimentos e saberes, oportunizando aos estudantes e professores a identificação de problemas, da escola ou da comunidade, e a construção coletiva de soluções para resolvê-los ou minimizá-los.

“Nós queremos fazer uma ação afirmativa curricular. Instituindo a pesquisa que olhe para as nossas comunidades, que pense os nossos sujeitos e que dialogue com as diferentes identidades que nós temos no ambiente escolar. Mais do que isso, nós estamos instituindo a pesquisa na educação básica para dizer que vamos reconstruir a democracia no nosso país”, ressaltou a secretária de Estado de Educação, Macaé Evaristo.

Ubuntu/Nupeaas

O Ubuntu/Nupeaas é uma ação da campanha da Afroconsciencia. A Superintendente de Modalidade e Temáticas Especiais de Ensino, Iara Pires Viana, destaca o perfil dos professores que irão atuar na iniciativa. “Os professores que aqui estão, em sua maioria, possuem pós-graduação e investigam junto com o estudante. O protagonismo juvenil é algo que está posto para o Ubuntu/Nupeaas”.

Durante os três dias, os educadores irão participar de uma formação organizada pela ONG Ação Educativa, que é uma parceira da SEE. Será utilizada uma metodologia que utiliza indicadores de qualidade para educação das relações étnico-raciais, a qual poderá ser apropriada pelos professores para aplicar na escola junto ao projeto. “É uma metodologia interessante, porque ela nos dará a possibilidade de monitorar a aplicabilidade da lei 10.639 nas unidades escolares e a participação das comunidades nos projetos”, afirma Iara.

Ela acredita que a iniciativa deverá impactar mais de 13 mil jovens. “As 94 escolas são os núcleos instalados. São 12 estudantes que se tornam jovens pesquisadores e cada um no processo do projeto irá agregar alunos de outras escolas também. Diretamente, vamos atingir cerca de dois mil estudantes, mas, indiretamente, serão mais de 13 mil”, conclui.

A partir do próximo ano, a professora de Língua Portuguesa, Amanda Carvalho, irá trabalhar com seus alunos o projeto Furtacor. “Vamos pesquisar onde está o negro na região, quais os lugares que ele ocupa, quais as condições oferecidas para começar a entender as oportunidades que estão sendo dadas para, a partir daí, começar um trabalho de conscientização. O resultado final seria a publicação de um livro que registrasse tudo isso”, conta Amanda.



Territórios de Iniciação Cientifica

Os 33 professores que inscreveram um problema de pesquisa ou um anteprojeto terão 10 meses para transformar a pergunta apresentada em uma resposta compatível com os anseios da comunidade. A superintendente de Desenvolvimento do Ensino Médio da SEE, Cecília Resende, destaca o protagonismo dos educadores que tiveram seus projetos escolhidos para participar da iniciativa. “A pesquisa não é uma prática na educação básica. Então, temos aqui 33 heróis que ousaram começar a ação efetiva de pesquisa com um grupo de estudantes. Nesse Encontro, a ideia é que a gente discuta o que é a pesquisa como principio educativo, como utilizá-la para ensinar e para aprender e o que significa fazer pesquisa aplicada àquela comunidade escolar”, pontuou.

Alexandre Ribeiro da Mota é professor de Biologia na Escola Estadual Vigário Torres, em Unaí. O educador escreveu um projeto que pretende fazer um diagnóstico do Córrego Cana Brava e conta o que o motivou a participar na iniciativa e quais os desafios encontrados. “Acabei de concluir um mestrado e fiquei inspirado quando vi essa iniciativa, que é pioneira no Estado, por isso resolvi escrever o projeto. Na escola, percebi que os alunos não têm a concepção do que é a iniciação cientifica e isso será um desafio pra mim. Vou tentar mostrar para eles as etapas que uma pesquisa cientifica deve ter. Nesta formação, pretendo encontrar um norte para conduzir os alunos durante o projeto”, conta.

Campanha Afroconsciência

A iniciativa promovida pela SEE tem o objetivo de fomentar, por meio de diferentes iniciativas, ações nas unidades escolares para a superação do preconceito racial, na busca pelo reconhecimento e valorização da história e da cultura dos africanos na formação da sociedade brasileira, além de iniciativas que enfrentem o racismo e promovam a igualdade racial no âmbito educacional no Estado.

A base da Campanha é a Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que tornou obrigatório o ensino de história e cultura afrobrasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares no Brasil. De acordo com o texto, os estudos de história e cultura afro-brasileira devem ser ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, de forma a resgatar a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política brasileira. A implementação da Lei 10.639 significa uma ruptura profunda com um tipo de postura pedagógica que não reconhece as diferenças resultantes do processo de formação nacional brasileiro. Outra mudança ocorrida a partir da aprovação dessa Lei foi a inclusão, no calendário escolar, do Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro.